“De tanto me perguntarem, parei para pensar com calma. A resposta não estava na ponta da língua por um motivo simples: é difícil. Muito difícil. Lula teria de nascer de novo. Para vencer e permanecer relevante no novo ciclo, precisaria abandonar o repertório inteiro. Reprogramar a cabeça do zero. Extirpar valores, vícios e reflexos condicionados acumulados em oitenta anos de vida. Ele topa? Não. Mas do que se trata, exatamente? 10 tópicos: 1) Sair da bolha da esquerda, da claque dependente e da base confortada, e disputar o centro. Falar com o moderado que paga a conta. Pivotar 20 anos de PT e do país para o lado desse eleitor em 20 dias; 2) Ajustar a agenda ao próximo ciclo. Trocar o personagem sindicalista e o “rei dos pobres” por um líder pragmático, gestor, moderno, com visão de futuro e pautas contemporâneas; 3) Entregar o governo de bandeja ao Centrão. De verdade. Pelo menos 51%, se tornar minoritário na sociedade, como Bolsonaro fez. Aceitar ser só o gerente no próprio governo; 4) Trazer para perto uns sete governadores que hoje o detestam e não têm nada a ver com ele. Sanar um atrito que é cultural e geracional com esses maiores; 5) Convencer seis dos sete caciques nacionais de que acabou pra sempre a era da companheirada nos cargos-chave. Encerrar indicações ideológicas, inclusive para o STF. Dar a vice ao Centrão e prometer que ficará só meio mandato no suposto Lula 4; 6) Fincar pé nas pautas que lideram pesquisas. Por exemplo, na segurança pública, falar como Caiado: resultado e ordem. “Bandido tem que sofrer”; 7) Adotar discurso de gestão e mérito. Ensinar a pescar, celebrar prosperidade e esforço próprio, no estilo Tarcísio, Ratinho Jr. e Zema; 8) Conceder anistia a Bolsonaro e aos presos de 8 de janeiro em troca de pacificação e apoio da família; 9) Converter todo seu núcleo duro ideológico. Gente que o visitou na cadeia teria de aceitar a virada completa e engolir o pragmatismo; 10) Romper e condenar o eixo Maduro e acenar a 100% ao Trump. Entregar terras raras de bandeja, afrouxar todas as regulações sobre big techs, afastar-se retoricamente de China e Brics e posar de boné vermelho do Maga. Tudo isso em 2025, para sentar à mesa das negociações do primeiro trimestre de 2026. Ou seja: fazer em 60 dias o que não fez em toda a vida. Aí, sim, daria para ganhar sem susto. Não fará? Tem gente que topa. Boa sorte, Lula”.